Casos de crianças acusadas de bruxaria continuam a ser registrados na Inglaterra, segundo especialistas que analisaram mais de 14 mil investigações sociais relacionadas a abusos motivados por crenças religiosas desde 2015. Apenas no último ano, 2.180 novas ocorrências foram identificadas.
A discussão sobre o tema ganha força com o lançamento do filme Kindoki Witch Boy, que retrata a história de Mardoche Yembi, de 33 anos. Durante a infância, ele foi alvo de acusações de bruxaria e submetido a rituais religiosos no norte de Londres. O longa pretende dar visibilidade a crianças que vivem situações semelhantes. “Se um filme como esse existisse quando eu era pequeno, teria me sentido menos sozinho”, afirmou Yembi ao The Guardian.
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O assunto também remete a um dos casos mais emblemáticos de abuso infantil no Reino Unido. Há 25 anos, Victoria Climbié, de oito anos, foi torturada e morta após ser acusada de estar possuída por espíritos malignos. A menina sofreu agressões extremas e passou fome antes de falecer, o que levou à reformulação dos serviços de proteção infantil no país.
Nascido na República Democrática do Congo, Yembi foi enviado para o Reino Unido após a morte da mãe. Ainda criança, passou a ser responsabilizado pelos problemas financeiros da família e sofreu perseguições religiosas. “Me levaram para a igreja para tentar expulsar o ‘demônio’. Havia muita gritaria, e me culpavam por tudo”, relembrou ele em entrevista à Sky News.
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A intervenção dos serviços sociais impediu que Yembi fosse enviado de volta ao Congo para um exorcismo. Diferente de Victoria, ele sobreviveu e encontrou acolhimento em uma nova família, onde pôde recomeçar. Hoje, ele atua na assistência a jovens em situação de vulnerabilidade e vê o filme como uma forma de alertar a sociedade. “Parte desse trabalho é por Victoria. Ela não teve a chance de sobreviver, mas seu nome precisa ser lembrado”, declarou.