O que começa com um comportamento estranho pode virar tendência — até mesmo entre chimpanzés. Um novo estudo revelou que grupos desses primatas em um santuário da Zâmbia passaram a inserir folhas de grama nas orelhas e, mais recentemente, no próprio traseiro. Sem nenhuma função prática evidente, a prática está sendo encarada por pesquisadores como um exemplo surpreendente de “moda social” no mundo animal.
Tudo começou com uma fêmea chamada Julie, que, em 2010, passou a deixar grama pendurada na orelha. A atitude logo foi replicada por outros membros do grupo e continuou mesmo após a morte de Julie, em 2013. Agora, uma década depois, cientistas observaram uma nova versão do comportamento: um chimpanzé chamado Juma passou a colocar grama no traseiro — e foi rapidamente imitado por boa parte do grupo.
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Os dados foram publicados na revista Behaviour, com base em observações feitas entre 2023 e 2024. Apesar de não haver contato direto entre os grupos analisados, os pesquisadores acreditam que os cuidadores humanos — que trabalham com todos os chimpanzés do santuário — podem ter sido o elo entre os dois comportamentos. Isso porque, segundo o estudo, esses profissionais costumam limpar os ouvidos com objetos como grama ou fósforos, o que pode ter inspirado a versão simiesca do gesto.
“Esses primatas são extremamente sociais e atentos. A cópia de comportamentos pode servir para estreitar laços e gerar senso de pertencimento”, afirma Edwin van Leeuwen, professor da Universidade de Utrecht e um dos responsáveis pela pesquisa.
Cultura animal em foco
O estudo amplia o debate sobre o que pode ser considerado cultura entre animais. Enquanto comportamentos imitativos geralmente envolvem a busca por alimentos ou ferramentas, os atos observados na Zâmbia não oferecem nenhum benefício direto — pelo menos do ponto de vista funcional. Ainda assim, se espalham rapidamente, como uma tendência.
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Especialistas sugerem que o ambiente controlado e com menos ameaças permite que esses chimpanzés explorem comportamentos mais criativos, mesmo que aparentemente inúteis. Isso se aproxima de fenômenos já observados entre orcas, que nadam com peixes mortos sobre a cabeça — um gesto igualmente sem explicação funcional clara, mas possivelmente simbólico ou social.
Para os pesquisadores, o caso é um lembrete de que expressões culturais podem surgir de formas inesperadas, mesmo entre folhas de grama e rabos peludos. E que, talvez, o impulso de seguir a moda não seja exclusividade dos humanos.