A estreia do filme australiano Juntos na China provocou uma grande polêmica entre internautas e críticos de cinema. Desde já, muitos notaram alterações significativas na obra, principalmente nas cenas que retratavam um casal homoafetivo. Conforme foi apurado, a versão exibida no país asiático utilizou inteligência artificial para modificar digitalmente o rosto de um dos homens, substituindo-o por uma face feminina.
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Além dessa substituição, outras referências à relação entre os dois personagens desapareceram completamente. Em uma das sequências mais comentadas, por exemplo, uma cena de chuveiro teve o corpo de um dos protagonistas coberto por vapor gerado artificialmente — um recurso usado para suavizar o conteúdo e atender aos padrões de censura local. Ademais, trechos de diálogo e gestos de afeto foram removidos, reduzindo o impacto emocional da narrativa original.
A distribuidora Neon, responsável pela versão internacional do longa, reagiu com indignação às modificações não autorizadas. Em comunicado enviado ao site Deadline, a empresa declarou: “A Neon não reconhece nem aprova a versão modificada e já solicitou que sua veiculação seja interrompida imediatamente.” Nesse sentido, o estúdio reforçou que as alterações ferem os princípios de liberdade artística e distorcem o propósito do filme.
O caso ilustra, sobretudo, a rigidez da política de censura cultural na China. O país mantém restrições severas sobre conteúdos que envolvem a comunidade LGBTQIA+, considerados sensíveis ou inapropriados segundo a regulamentação local. Afinal, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda não é legalizado, e obras que abordam o tema frequentemente enfrentam cortes ou adaptações antes da liberação oficial.
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De acordo com o jornal The Guardian, todo filme estrangeiro precisa ser aprovado pelo órgão de censura chinês antes de sua exibição. Com frequência, essas produções sofrem cortes, retoques digitais ou alterações de roteiro para se adequar às diretrizes internas. Igualmente, esse controle permite que o governo imponha restrições culturais de forma sutil e quase imperceptível ao público em geral.
A censura aplicada a Juntos reacendeu o debate internacional sobre liberdade artística e representatividade LGBTQIA+ no cinema. Além disso, a situação evidencia como normas culturais locais ainda influenciam a exibição de obras globais. Em suma, o episódio reforça o desafio constante de equilibrar respeito cultural e autenticidade criativa em um cenário cinematográfico cada vez mais interconectado.