Um dos criminosos mais conhecidos da história recente do Brasil voltou a ganhar destaque nas redes sociais após a divulgação de um vídeo gravado dentro da Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá (PE). Nas imagens, Jorge Beltrão Negromonte da Silveira — condenado por assassinatos e canibalismo no caso que ficou conhecido como “Canibais de Garanhuns” — aparece pregando como pastor evangélico entre outros detentos.
Vestido com camisa social e gravata, e carregando um violão, Jorge é apresentado por colegas de culto como “pastor da penitenciária”. Durante a pregação, ele cita trechos bíblicos e relata sua conversão à fé cristã em 2012, mesmo ano em que foi preso. “Quem está em Jesus, nova criatura é. As coisas velhas se passaram, tudo se fez novo”, diz, citando a carta de Paulo aos Coríntios.
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Condenado a mais de 71 anos de prisão por homicídios triplamente qualificados e ocultação de cadáver, Jorge foi apontado como o líder do trio responsável pela morte de três mulheres, cujos corpos foram parcialmente consumidos e usados para a produção de empadas vendidas à população em Garanhuns (PE). O caso, descoberto em 2012, causou comoção nacional pela brutalidade e possível vínculo com rituais de purificação.
Segundo o advogado de defesa Giovanni Martinovich, Jorge se converteu há mais de dois anos e hoje atua como líder religioso dentro da prisão. “Ele escolheu viver como pastor. Já me disse que, se sair, volta a matar”, afirmou o defensor. Diagnosticado com esquizofrenia e atualmente cego, Jorge afirma temer uma recaída fora da prisão, quando estaria vulnerável à escuta de vozes que, segundo ele, o incitavam aos crimes.
Mesmo tendo condições legais para solicitar progressão de regime ou prisão domiciliar, Jorge recusa qualquer tentativa de liberdade. Segundo o advogado, seu cliente teme represálias caso seja reconhecido fora dos muros da penitenciária. “Ele sabe que, lá fora, não teria chance de recomeçar. E tem consciência do que fez”, declarou Martinovich.
O caso volta a evidenciar o papel da religião dentro do sistema prisional brasileiro. Para o advogado, a fé tem sido o único caminho real de transformação para muitos detentos. “A ressocialização no Brasil, de fato, não funciona. A religião, especialmente a evangélica, tem recuperado muita gente. É a única válvula de escape”, afirmou.
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O trio responsável pelos crimes — Jorge Beltrão, Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva — foi condenado em diferentes etapas entre 2014 e 2019. As investigações apontaram que o grupo integrava uma seita e realizava os assassinatos como parte de rituais. O caso ainda hoje é lembrado como um dos mais perturbadores da crônica policial do país.