O governo da Flórida anunciou que pretende eliminar todas as exigências estaduais de vacinação, incluindo as obrigatórias para matrícula em escolas públicas. O anúncio foi feito na quarta-feira (3) pelo cirurgião-geral Joseph Ladapo ao lado do governador republicano Ron DeSantis, que reforçou a ideia de que a imunização deve ser uma “escolha pessoal”.
“Cada uma dessas exigências está errada e transborda desdém e escravidão”, disse Ladapo em coletiva em Tampa. “Quem sou eu para dizer o que vocês devem fazer com seus corpos?”.
A proposta, porém, gerou críticas contundentes da comunidade médica. A pediatra Tina Tan, presidente da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, classificou a iniciativa como um “grande desastre”. Para ela, a suspensão da obrigatoriedade abrirá caminho para surtos de doenças que estavam controladas. O epidemiologista Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota, também reagiu: “Todos os pais de crianças que morrerem ou forem hospitalizadas por doenças preveníveis saberão exatamente o motivo”.
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Hoje, todos os estados americanos exigem vacinas para ingresso em escolas públicas, embora haja exceções específicas. Caso a mudança seja aprovada, a Flórida se tornará a primeira unidade da federação a dispensar completamente esse requisito. Segundo dados do CDC, no ano letivo de 2024/2025, cerca de 11 mil crianças já foram isentas de uma ou mais vacinas no estado.
O anúncio ocorre em meio à queda nas taxas de imunização infantil nos EUA e ao maior surto de sarampo desde 2000. Além de aumentar riscos em creches e escolas, médicos alertam que a medida pode afetar turistas e facilitar a disseminação de doenças para outros estados, já que a Flórida é um dos principais destinos turísticos do país.
DeSantis justificou a decisão como parte da defesa da “liberdade médica” e anunciou a criação de uma comissão estadual alinhada à agenda de Robert F. Kennedy Jr., atual secretário de Saúde dos EUA e crítico declarado das vacinas. Essa aproximação reforçou a preocupação de especialistas com a erosão da confiança científica no país.
O anúncio também mexeu com o mercado financeiro: ações da Pfizer recuaram 0,9%, enquanto as da Moderna caíram 1,4%. Em resposta, estados da Costa Oeste — Califórnia, Oregon e Washington — anunciaram uma aliança para manter recomendações próprias de imunização.
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Apesar das críticas, Ladapo manteve sua posição contra a vacinação obrigatória e voltou a questionar imunizantes de mRNA contra a Covid-19, sem apresentar evidências. Para ele, a decisão deve caber “a cada pessoa, seu corpo e Deus”.
Pesquisadores lembram, no entanto, que as vacinas salvaram cerca de 14,4 milhões de vidas apenas no primeiro ano de imunização contra a Covid-19, segundo estudo da revista The Lancet. Para especialistas, a medida ameaça apagar décadas de avanços em saúde pública.