A abrupta decisão da administração Trump de encerrar o programa de pesquisas para vacinas contra o HIV representa um terremoto no cenário científico global. O corte de US$ 258 milhões em financiamento anual não apenas interrompe projetos promissores, como desmantela uma complexa rede de cooperação internacional que levou anos para ser construída. Os Institutos Nacionais de Saúde comunicaram sem prévio aviso a suspensão dos repasses para as instituições líderes do projeto – a Universidade Duke e o Instituto Scripps – deixando em suspenso décadas de pesquisa acumulada.
O impacto dessa medida vai muito além do campo específico do HIV. Os mesmos estudos que buscavam uma vacina para a AIDS estavam gerando conhecimentos aplicáveis a diversas outras áreas médicas. Avanços no tratamento da Covid-19, novas abordagens para doenças autoimunes e até desenvolvimentos na área de antídotos para venenos estavam sendo conduzidos paralelamente. A justificativa oficial de uma “reorientação estratégica” para métodos existentes esconde uma realidade mais preocupante: a mudança nas prioridades de financiamento que privilegia resultados imediatos em detrimento de pesquisas de longo prazo.
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O golpe mais simbólico veio com o cancelamento paralelo dos recursos para o ensaio clínico da Moderna, que aplicava a revolucionária tecnologia mRNA – a mesma das vacinas contra Covid – no combate ao HIV. Essa decisão paradoxal ocorre justamente quando o mundo reconhece o valor da ciência básica e de descobertas transformadoras. Os efeitos dessa política já começam a aparecer: laboratórios reduzem equipes, projetos internacionais ficam sem coordenação e uma geração de pesquisadores se vê forçada a abandonar linhas de estudo que consumiram anos de dedicação.
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Por trás dos números e das justificativas burocráticas, o custo humano dessa decisão se revela alarmante. Enquanto o vírus HIV continua infectando 1,5 milhão de pessoas anualmente, a perspectiva de uma vacina preventiva ou curativa se afasta no horizonte. Comunidades científicas ao redor do mundo manifestam perplexidade diante do que classificam como um retrocesso sem precedentes na luta contra uma das pandemias mais persistentes da história moderna. O que parecia ser uma corrida científica decisiva transformou-se, por uma canetada administrativa, em mais um capítulo de incertezas na batalha contra o HIV.