Cinco décadas depois do assassinato do estudante José Carlos Novais da Mata Machado, militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), sua viúva, Maria Madalena Prata Soares, recebeu uma indenização de R$ 590 mil da União. O pagamento encerra um processo judicial iniciado em 1999, que reconheceu a responsabilidade do Estado pela morte ocorrida em 28 de outubro de 1973, no DOI-CODI do Recife.
Prisão e tortura
Conhecido como “Zé”, o jovem tentava escapar da repressão militar quando foi capturado. Na mesma noite, outros integrantes da APML, como Gildo Macedo Lacerda e Oldack Miranda, também foram presos. Zé e Gildo morreram sob tortura na madrugada seguinte.
Antes de ser morto, Zé deixou uma última mensagem ao companheiro Rubens Lemos:
“Se puder, avise aos companheiros que não abri nada.”
A versão oficial da época alegava um tiroteio — episódio forjado e conhecido como “Teatro da Caxangá”.
++
Batalha da família
O pai do estudante, Edgar da Mata Machado, professor da UFMG e deputado federal cassado pelo AI-5, iniciou uma luta para localizar o corpo, encontrado em uma sepultura anônima no Cemitério da Várzea. Com apoio da advogada Mércia Albuquerque, os restos mortais foram levados para Belo Horizonte, mas somente na década de 1990, com a abertura da Vala de Perus, a identidade foi confirmada oficialmente.
Reconhecimento e legado
O Estado reconheceu formalmente a responsabilidade em 2003, mas apenas em 2023 a União esgotou recursos e a indenização foi liberada. O advogado Eduardo Diamantino destacou o caráter simbólico da reparação:
“Embora tardia, representa um passo importante na busca por justiça.”
Nascido no Rio e radicado em Belo Horizonte, Zé estudou Direito na UFMG, foi líder estudantil e vice-presidente da UNE. Reconhecido como morto político em 1996, teve sua trajetória registrada no livro “Zé – José Carlos Novais da Mata Machado” e no longa-metragem homônimo dirigido por Rafael Conde, lançado em 2023.