“Ennui” é uma palavra francesa que traduz o sentimento de tédio profundo, frequentemente associado a um vazio existencial. George Orwell, em seu livro “Na Pior em Paris e Londres”, descreveu esse sentimento de maneira pungente ao narrar a vida em um albergue público, onde os homens, desprovidos de qualquer distração, ficavam à mercê de seus próprios pensamentos e do imenso tédio.
No entanto, a palavra “ennui” tem uma história rica que remonta ao latim vulgar “inodiarie”, significando aborrecer ou ser uma fonte de transtorno. Essa palavra passou pelo francês medieval “ennoiare” antes de chegar ao francês moderno. A expressão “mihi in odiō est” no latim clássico, que literalmente significa “para mim, em uma condição de ódio tal coisa está”, evoluiu para significar simplesmente “eu não gosto”.
No século XIX, “ennui” tornou-se popular na Inglaterra e nos Estados Unidos, imbuída de um ar de sofisticação e profundidade emocional. Mas com o passar do tempo, seu uso declinou, até ser redescoberta recentemente, como ilustrado pelo gráfico do Google Books Ngram Viewer, que mostra um ressurgimento dessa palavra desde 1900.
O retorno de “ennui” ao vocabulário popular é celebrado no recente lançamento da Pixar, “Divertida Mente 2”. No primeiro filme, as emoções básicas – Alegria, Raiva, Medo, Tristeza e Nojo – habitavam a mente da jovem Riley. Agora, na adolescência, novas emoções se juntam a elas: Ansiedade, Inveja, Vergonha e Tédio. Nesta continuação, a personagem do Tédio, chamada Ennui em inglês, reflete essa profundidade existencial, sempre com um ar de indiferença, rolando o feed do celular.
“Ennui” é mais do que mero tédio infantil. É uma sensação de vazio crônico, de ausência de propósito, que pode ser tão esmagador quanto o desespero dos mendigos descritos por Orwell ou o tédio sufocante de uma aristocrata do século XIX, confinada às convenções sociais e à monotonia de sua existência.
Além disso, a palavra “ennui” deu origem a termos como “annoy” (irritar) e “annoyed” (aborrecido) em inglês, e também influenciou o português, gerando palavras como “nojo”, “enjoo” e “enjoado”. O termo jurídico “Licença Nojo”, que permite dois dias de folga em caso de falecimento de um parente, deriva desse mesmo sentido de incômodo ou transtorno profundo.
Com essa riqueza etimológica e histórica, “ennui” transcende sua tradução simples de tédio. Representa uma complexidade emocional e cultural que continua a ressoar, especialmente agora, na era da superconectividade e do bombardeio constante de estímulos, onde a sensação de vazio pode ser mais comum do que nunca.